Face à mediática derrocada registada na praia Maria Luísa em Albufeira, a Almargem manifesta a sua opinião face ao sucedido e às medidas tomadas pelo Ministério do Ambiente. Uma visão crítica, abrangente e bem fundamentada, que vale a pena ser lida e tida em consideração.
Andreia Martins
"Torna-se necessário travar a ocupação das arribas litorais. No rescaldo da trágica derrocada registada, na passada semana, na Praia Maria Luísa (Albufeira), o Ministério do Ambiente decidiu levar a cabo o desmantelamento parcial do bloco de arenito que esteve no centro do acidente. Apesar de compreensível, a decisão, que foi desde logo apoiada pessoalmente pelo próprio Ministro do Ambiente, em férias no Algarve, face à pressão da opinião pública e perante as proporções humanas mas também mediáticas que o acidente tomou, não pode contudo ser encarada de ânimo leve. Não que não se considere que a mesma não constitui uma medida necessária de manutenção da segurança pública, mas sim porque a mesma encerra em si um claro sinal de ausência de percepção do que está realmente em causa. As zonas de arriba que estão consideradas como de maior risco (Sensibilidade à erosão média-elevada) estão há muito identificadas pelas autoridades regionais – CCDR Algarve, agora substituída pela ARH Algarve, no que diz respeito a estas competências. As zonas de risco mais elevado localizam-se em dois troços do litoral central do Algarve: o troço de arriba rochosa (calcária) entre a Praia dos Três Castelos/Prainha e a Praia da Rocha (Portimão) – destacando-se o troço entre a Praia do Vau e esta última - e o troço entre Albufeira e Olhos de Água, constituído na sua maioria por arriba rochosa (calcária), e por arriba arenosa (arenítica) entre a Praia Maria Luísa/Torre da Medronheira e os Olhos de Água, justamente na zona onde agora se deu a derrocada. São estes dois troços que registam anualmente os maiores deslizamentos em massa (derrocadas). Existem igualmente outros três troços considerados de médio risco:
1)entre a Ponta da Piedade e Lagos, particularmente na Praia de D. Ana– área já intervencionada após ocorrência de derrocada;
2) entre o Carvoeiro e a Senhora da Rocha, particularmente nas arribas (sobreocupadas) sobranceiras ao Carvoeiro;
3) e entre a Praia da Galé e São Rafael/Ponta da Baleeira.
No entanto, o que mais salta a vista neste cenário de risco é que quase todos os troços referidos estão já fortemente ocupados por urbanizações, muitas delas em plena arriba, e nos quais surgem regulamente (ainda mais) novas construções - Praia da Galé, São Rafael/Ponta da Baleeira, Olhos de Água…. Para mais, o único troço que ainda se apresenta parcialmente livre, entre o Carvoeiro e a Sra. da Rocha, e o qual foi já objecto recentemente de uma intervenção de urgência – em Vale Centianes –está agora na mira de promotores imobiliários, estando previstos 3 projectos imobiliários, dois na zona do Farol da Alfanzina e na Praia do Benagil, , e outro já próximo da Sra. da Rocha todos no concelho de Lagoa. É este o cenário que o Sr. Ministro deveria ver, aproveitando o facto de, mesmo como cidadão em férias, poder tomar conhecimento de uma realidade que não pode mais ser tapada com a peneira. A noção de risco prevê alguma imprevisibilidade, sendo mais correcto assumir estas zonas como de maior ou menor risco potencial, quer em face da maior sensibilidade face aos factores naturais (agentes erosivos) que contribuem para a actividade das arribas como sejam a acção do mar e das marés, mas também a chuva e a própria acção do Homem, particularmente derivada da ocupação por construções e da circulação de veículos – que contribuem mais ou menos directamente para perturbar um sistema já por si muito dinâmico e frequentemente instável. A juntar a esta notória incúria das autoridades, ao nível da incapacidade ou inércia para travar o betão sobre a costa, fica mais uma vez clara a ausência da noção de risco por parte da população em geral, que parece ignorar os avisos, mesmo os mais evidentes.
Loulé, 25 de Agosto de 2009
A Direcção
Almargem
Contacto: Luís Brás (967170788)"
Fontes das Imagens:
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1 comentários:
O "Tuga" facilita muito! E é perito a contornar situações, mesmo q por vezes fique debaixo das mesmas.
"Torna-se necessário tarvar a ocupação das arribas..." mas Agora, agora ... q já estão todas ocupadas? ah! esperem faltam as arribas da Costa Vicentina...
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